O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, disse ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9) que o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto conseguiu verba para ajudar a financiar os acampamentos de manifestantes em frente ao Quartel-General do Exército.
De acordo com Cid, o Major Rafael de Oliveira, um “kid preto”, pediu R$100 mil reais ao tenente-coronel para manter os acampamentos. A informação já havia sido compartilhada anteriormente com a Polícia Federal, em um testemunho que fez parte do seu acordo de delação premiada.
O militar disse então ter procurado Braga Netto, que lhe indicou a pedir o dinheiro para o Partido Liberal (PL). Um coronel e tesoureiro do PL o qual Cid diz não recordar o nome respondeu que a legenda não poderia financiar a ida de manifestantes.
“Inicialmente eu brinquei com ele. ‘Cem mil?”, afirmou Cid. “Aí eu fui procurar o general Braga Netto. Inicialmente o general Braga Netto me orientou que eu procurasse o pessoal do partido. Lembro que o intuito, pelo menos na minha cabeça, o intuito eram manifestações apoiadas pelo Exército na frente dos quartéis”, relata o delator.
“Aí eu conversei com ele [tesoureiro do PL], inclusive mostrei aquele documento que a senha não foi quebrada. Ele falou que o partido não poderia bancar aquilo ali, que não tinha como o partido apoiar manifestantes para trazer”, prosseguiu.
Após a recusa do partido, Cid relatou que Braga Netto arrumou o dinheiro e entregou a ele em uma sacola de vinho. O tenente-coronel afirmou não saber precisar o valor, mas que parecia menos de R$ 100 mil pelo volume.
“Posteriormente eu retornei para o general Braga Netto. O espaço temporal, não me recordo. O general Braga Netto trouxe uma quantia em dinheiro, que eu não sei precisar, mas com certeza não foram os cem mil, até porque pelo volume não era. Que foi ado para o major de Oliveira, no próprio Alvorada”, afirmou Mauro Cid ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
A agem dos recursos não foi mencionada por Cid em seus dois primeiros depoimentos à Polícia Federal, lembrou Moraes. O tenente-coronel apenas compartilhou a informação depois da PF adverti-lo sobre o pedido de decretação de prisão e mais tarde, após ser advertido durante depoimento que, em caso de omissão, poderia ser preso novamente e ter o acordo de colaboração premiada suspenso.
Mauro Cid disse que não havia compartilhado porque estava abalado.
Questionado durante a audiência sobre a origem do dinheiro, Cid afirmou que “na época, disseram que era do pessoal do agronegócio”.
As informações compartilhadas pelo tenente-coronel hoje já haviam sido ditas anteriormente à Polícia Federal.
Em 2024, uma investigação da PF apontou que os R$ 100 mil foram propostos inicialmente por Cid como uma estimativa para arcar com custos de manifestantes que viriam do Rio.
Em conversas obtidas pela corporação entre o ex-ajudante de ordens e o major do Exército Rafael Martins de Oliveira, ele não deixou claro se falava do estado ou da capital fluminense.
Martins argumentava que precisaria do dinheiro para arcar com custos.”O ajudante de ordens solicita que o mesmo [Martins] faça estimativa de custos com Hotel, Alimentação e Material, e pergunta se a quantia de R$ 100.000,00 (cem mil reais) é suficiente. Martins responde que sim e é orientado por Cid a trazer pessoas do Rio, provavelmente se referindo a cidade do Rio de Janeiro”, diz trecho da investigação citado na decisão de Moraes.
Fonte: CNN Brasil